domingo, 26 de junho de 2011
A “IMAGEM” DE PASSOS COELHO
quinta-feira, 23 de junho de 2011
"A cada um o seu lugar", de Irene Pimentel
NOVAS MEDIDAS SOBRE UMA NOVA CLASSE BAIXA
HÉRCULES, VITOR GASPAR E SANTOS PEREIRA – OU EURISTEU E PASSOS COELHO
Cumpriu a Hércules realizar doze trabalhos sob o comando de Euristeu, Rei de Argos de Micenas. Cumprem agora a Vitor Gaspar e a Santos Pereira realizar os dez desafios da equipa económica do Governo sob o comando de Pedro Passos Coelho.
Duas observações parecem pertinentes. Pelo menos duas. À primeira vista. Concidentemente com os dois trabalhos que faltam na lista dos actuais Ministros das Finanças e Economia.
Vejamos a lista de trabalhos adjudicados a Vitor Gaspar e a Santos Pereira.
Um, terão de aplicar o plano da ‘troika'. E convém que o façam cabal e escrupolosamente, senão, o financiamento que nos promete salvar da bancarrota pode ficar onde está e tudo isto, incluindo a demissão do Governo socialista ter sido em vão, ou talvez não, já que prometeu a reviravolta política desejada pela então Oposição e hoje Governo.
Dois, terão de enfrentar a contestação social que se espera com manifestações de estudantes e talvez qualquer coisita mais e, ainda, de mobilizar o país, fazendo-o compreender porquê tanta austeridade, sobretudo quando vêm a público mais disparates – a um feriado sejamos soft - sem qualquer justificação legal, como a atribuição a juízes falecidos de subsídios de compensação, a passagem de receitas por médicos falecidos ou a atribuição de seguros a familiares de funcionários (tudo isto pesado vamos em milhões de euros). Há pois que punir exemplarmente os responsáveis, a que acrescem as medidas já esperadas como o corte de pensões, o congelamento de salários na Função Pública, a subida de impostos e a redução de verbas para muitas empresas e organismos públicos.
Três, terão de encontrar soluções para os desvios, já que a meio do caminho as medidas correctivas são previsíveis e inevitáveis. Criatividade e jogo de cintura obrigarão a um plano B ou C ou mesmo D.
Quarto, terão de acompanhar as avaliações trimestrais efectuadas pelo FMI, pela Comissão Europeia e pelo BCE, de modo a garantir que o País tenha uma boa nota, valorizando os bons resultados que tenham sido obtidos.
Quinto, terão de acalmar os mercados e falar para fora, gerindo a comunicação de forma a não fragilizar a imagem do país perante outros eventuais investidores.
Sexto, terão de estimular a economia. Pelas contas do FMI já fez as contas: este ano a economia portuguesa vai recuar 1,8% e em 2012 o recuo será de 2%. É o resultado das medidas de contenção para garantir a redução do défice e da dívida pública. Mas importa ainda que, no meio de tanta depressão, se reinvente uma forma de estimular a economia.
Sétimo, terão de vender em baixa, incluindo, antevê-se, que privatize em força numa das piores alturas para avançar com processos de privatização. Ou seja: vender depressa e bem. E diz o povo que assim não o faz ninguém.
Oitavo, terão de reduzir a TSU, aquela que é, porventura, a medida mais que polémica da campanha eleitoral. Trata-se de um compromisso assumido para estimular a actividade das empresas e, em último, a economia. Álvaro Santos Pereira é acérrimo defensor da medida. Para compensar a quebra de receitas, caberá a Vítor Gaspar arranjar alternativas através dos impostos.
Nono, terão de alterar a lei laboral, flexibilizando-a, e de gerir o desemprego (que vai em 700 000). Um dos trabalhos mais penosos do actual Executivo e particularmente do super ministro da Economia.
Décimo, terão de liberalizar e acabar com as acções douradas, mais uma das imposições da ‘troika'. E assim desproteger os sectores que ainda se encontrem protegidos da concorrência, quer seja externa como interna.
Bem sei que faltam dois trabalhos para que Vitor Gaspar e Álvaro Santos Pereira se comparem a Hércules, mas ambos terão de confirmar ter a robustez e a firmeza deste para realizar estes dez e oxalá os ventos soprem a favor. Tudo leva a crer que, no actual contexto, o alívio de menos dois trabalhos forçados podem estar compensados pelo grau de dificuldade destes dez. Seguramente, reconheça-se, têm nestes uma enorme “carga de trabalhos”. Oxalá que Passos Coelho não tenha o feitio (ou defeito) de Euristeu.
domingo, 19 de junho de 2011
EDUARDO PRADO COELHO JÁ O DISSE - QUE RAIO DE GENTE SOMOS?
"Precisa-se de matéria prima para construir um País" - Eduardo Prado Coelho - in Público
"A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a *ESPERTEZA* é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal. *E SE TIRA UM SÓ JORNAL,** DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.*
Pertenço ao país onde as *EMPRESAS PRIVADAS* são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país: -Onde a falta de pontualidade é um hábito; -Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. -Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos. -Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. -Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é 'muito chato ter que ler') e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. -Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame.
-Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar.
-Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.
-Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Já basta.
Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.
Esses defeitos, essa *'CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA'* congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, *ELEITOS POR NÓS*. Nascidos aqui, não noutra parte...
Fico triste.
Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
E não poderá fazer nada...
Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.
*Qual é a alternativa ?*Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror ? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os
lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados !
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.
Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.
Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos: Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.Sim, decidi procurar o responsável e *ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI* *QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO*. *AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.** E você, o que pensa?... *MEDITE* !" EDUARDO PRADO COELHO
sexta-feira, 3 de junho de 2011
SOBRE A INVESTIGAÇÃO À MORTE DE PABLO NERUDA
“Vês estas mãos? Mediram a terra, separaram os minerais e os cereais, fizeram a paz e a guerra, derrubaram as distâncias de todos os mares e rios, e, no entanto, quando te percorrem a ti, pequena, grão de trigo, andorinha, não chegam para abarcar-te, esforçadas alcançam as palomas gémeas que repousam ou voam no teu peito, percorrem as distâncias de tuas pernas, enrolam-se na luz de tua cintura. Para mim és tesouro mais intenso de imensidão que o mar e seus racimos e és branca, és azul e extensa como a terra na vindima. Nesse território, de teus pés à tua fronte, andando, andando, andando, eu passarei a vida.” Assim falava Pablo Neruda.
Sabe-se que o Partido Comunista chileno interpôs a 31 de Maio uma acção judicial em que pediu a abertura de um inquérito à sua morte, depois de testemunhas a terem atribuído a um homicídio ordenado pela ditadura de Pinochet. Julgava-se que - e essa era a versão oficial dos acontecimentos - o escritor e diplomata tinha morrido de um cancro na próstata, numa clínica de Santiago do Chile, onde tinha sido hospitalizado. No início de maio, o antigo secretário e motorista do poeta, Manuel Araya, afirmou que Neruda foi assassinado para que não se tornasse, depois do exílio, num opositor à ditadura de Augusto Pinochet. E conta que, quando esteve à cabeceira deste, nos últimos dias da sua vida, aquele lhe contou que sentiu numa noite uma estranha picada administrada por um médico da clínica. Outro testemunho, o de um antigo embaixador do México no Chile, Gonzalo Martínez, que visitou o poeta na véspera da sua morte, veio forçar a dúvida, afirmando que, segundo o Partido Comunista chileno, Neruda estava longe de um estado clínico crítico.
A acção judicial foi dirigida ao juiz Mario Carroza, que tem a seu cargo a reabertura do inquérito à morte do presidente Salvador Allende, ocorrida no golpe de Estado de 11 de Setembro de 1973, ao qual se seguiu a ditadura de Augusto Pinochet, que durou até 1990. Neruda morreu em 1973, doze dias após o golpe militar que depôs o Presidente Salvador Allende e deu início à ditadura do general Augusto Pinochet, a 11 de Setembro. O juiz aceitou hoje o pedido do PC chileno. O caso vai ser investigado.
Além de Carroza já ter em mãos o processo sobre a morte de Salvador Allende, e outros 700 casos de vítimas da ditadura de Pinochet que nunca passaram pelos tribunais, cai agora sobre os seus ombros o peso de nos elucidar sobre a polémica. Carroza já pediu para ter acesso ao boletim clínico de Neruda e aos exames de controlo que fez na Clínica Alemã de Santiago. Pediu a certidão de óbito e ordenou à polícia de investigação chilena que reúna toda a informação sobre o caso. Tal como aconteceu no caso de Allende, é também possível que seja pedida uma exumação do cadáver.
Resta-nos esperar e acreditar que nem todos os casos que investigam a morte de homens feitos mitos se esvaneça no tempo e nos meandros da Justiça, como aconteceu por cá com Sá Carneiro. É que, às vezes, há quem se aproveite da morte de alguém consciente de que dele nada aproveitariam em vida. E isso deixa-me triste.