quinta-feira, 23 de junho de 2011

"A cada um o seu lugar", de Irene Pimentel


Irene Flunser Pimentel lança ‘A cada um o seu lugar’. Irene Flunser Pimentel é investigadora do Instituto de História Contemporânea, e a sua obra “contribui para a discussão política e legislativa actualmente em curso sobre as formas de governar e legislar especificamente associadas à questão da igualdade de género na sociedade portuguesa”, nas palavras de Maria Teresa Pizarro Beleza. Segundo esta professora - que muito admiramos - este livro, “escrito com exactidão e clareza, tornando a compreensão de questões complexas acessível a qualquer não especialista na matéria, constitui um estudo sério e esclarecedor acerca de um tema pouco estudado no nosso País”. É uma obra “para todos aqueles que desejem ter uma visão abrangente sobre o papel da mulher na sociedade portuguesa no século XX, como parte integrante e fundamental da história do Estado Novo”.
Na cerimónia de lançamento do seu 12º livro, Irene Flunser Pimentel afirmou que “temos sempre de pensar sobre a situação actual e sobre o futuro e a dada altura temos sempre de pensar sobre o caminho percorrido e raramente o fazemos. Ou seja, a situação é muito complicada hoje, acho que vamos sair dela, mas também temos de ter a noção que já percorremos um enorme caminho”.
A historiadora revela que cada vez que vai a uma escola, sobretudo do ensino secundário, fica “entusiasmada por ver a curiosidade que os jovens têm de saber algo mais sobre este tema”. Especialmente as jovens, “quase que não acreditam quando lhes digo, por exemplo, que uma mulher casada não podia sair do País sem autorização do marido”. Estas raparigas “são filhas e netas dessas mulheres e vêm isto como se fosse algo do outro mundo, o que considero já um enorme progresso da nossa parte”.
De acordo com a autora, “Portugal, neste momento, é o melhor país para uma mulher ser mãe do ponto de vista de estudos estatísticos”. Por outro lado, apesar da “protecção à maternidade que o Estado Novo apregoava, especialmente a partir de 1942 quando instituiu o abono de família que era considerado o salário familiar porque a família devia ter um salário para que a mulher e as crianças não tivessem de trabalhar dentro de casa, a mortalidade infantil era de 141 por mil, até aos dois anos. Hoje em dia, a mortalidade infantil praticamente não existe e está ao melhor nível na Europa”.
No livro, a Irene Pimentel analisa “juridicamente a situação do Estado Novo relativamente às mulheres porque talvez seja o que as pessoas menos saibam”. Outro aspecto que considera que "as pessoas sabem muito pouco” é que “na altura, o Estado Novo criou uma elite feminina”. A própria escritora “não tinha esta noção” pois “achava que o Estado Novo desvalorizava a função das mulheres e atribuía só tarefas domésticas e quanto muito de educação”. Mas depois verificou que “o Estado Novo foi o primeiro regime em Portugal a instituir, para algumas mulheres, o direito de voto. E a possibilidade também, para algumas mulheres, de serem eleitas deputadas para a Assembleia Nacional”. Isto porque, explica, “assim como a Primeiro República retirou os direitos às mulheres de votarem, foi preciso esperar até ao Estado Novo para que houvesse mulheres na Assembleia Nacional e uma elite feminina”.
A concluir, Irene Pimentel sublinhou que “as pessoas não podem esperar que este livro fale sobre as mulheres de oposição ao regime", mas sobre "a política feminina do Estado Novo, a política da sua primeira organização feminina que ficou incumbida de criar a mocidade portuguesa feminina e dirigi-la”. Um livro a não perder para percebermos a História das portuguesas neste tempo da História.