sábado, 12 de março de 2011

O dito manifesto e a geração "rasca"

Subscrevo, naturalmente. O artigo do Manuel Caldeira Cabral, no Jornal de Negócios. Sobre o dito manifesto e a geração "rasca".
"O manifesto não contém nenhuma referência aos jovens, nem à palavra desemprego, ou à palavra licenciado. Não refere a precariedade, não fala de criar empregos. Fala principalmente de acabar.
A actual geração de jovens teve muito mais oportunidades de estudar e tem mais oportunidades de encontrar bons empregos. Mas então porque é que está a ser apresentada como uma geração sem emprego e sem futuro?
Hoje, cinco vezes mais jovens têm acesso à universidade do que na geração dos seus pais. Fazer um curso passou de ser um privilégio de poucos para uma oportunidade aberta a todos. Há também mais oportunidades à saída da universidade, com o aumento dos empregos criativos, com exigência técnica e científica ou que requerem responsabilidade e liderança.
1. - Mas então onde estão as dificuldades?
A geração que entrou no mercado de trabalho nos últimos dez anos, em que o número de licenciados duplicou, assistiu ao fim de um regime de sociedade fechada. Isto trouxe oportunidades, mas também dificuldades.
O apertado funil à entrada, que existia no passado, garantia a escassez, alimentando a ideia de que ter um canudo bastava para ter uma situação profissional estável, bom salário e regalias.
A situação anterior era muito injusta, pois significava que limitando as oportunidades a poucos, estes tinham a vida garantida. Hoje, estamos numa sociedade em que todos podem estudar. Uma consequência disso é que o canudo não dá nenhum direito adquirido. O quase feudalismo, em que só alguns tinham oportunidade de ser doutores, mas em que esse título assegurava a reverência e privilégios, felizmente acabou. É importante que acabe dentro das cabeças das pessoas, e que estas percebam que estudar dá uma oportunidade que, se bem aproveitada, pode abrir outras oportunidades.
Na anterior geração, quase todos os licenciados acabavam por ocupar empregos que estavam entre os 10% melhor remunerados. Na actual geração, os melhores empregos continuam a ser ocupados por licenciados. No entanto, com 35% de licenciados, é matematicamente impossível que todos os licenciados venham a ter empregos que estejam entre os 10% melhores. Alguns jovens terão que ajustar as suas expectativas a uma realidade em que há mais empregos de qualidade, mas também há mais pessoas qualificadas a competir por estes.
O problema de alguns jovens é agravado pelo desfasamento existente entre as áreas que escolheram e a procura de qualificações por parte das empresas. Em algumas áreas bem identificadas existe um excesso de licenciados face às necessidades do mercado (direito, arquitectura, algumas ciências sociais). Quem escolheu, e quem continua a escolher, estas áreas sabe que decidiu seguir um caminho difícil, que poderá passar pelo desemprego e precariedade. Mas há muitas outras áreas, que atraem um número crescente de alunos, onde, mesmo com a crise, não há problemas de empregabilidade (economia, engenharias, etc).
2. - Por outro lado, mesmo salientando que esta geração enfrenta dificuldades diferentes das anteriores, é importante realçar que a caracterização que está a ser feita dos actuais jovens é errada. A maioria dos jovens licenciados consegue um emprego com contrato sem termo, a ganhar mais de mil euros, antes dos 30 anos. Cerca de 90% dos licenciados entre os 25 e os 34 anos, estão empregados, dos quais 75% com vínculo permanente. Os jovens licenciados têm níveis de desemprego muito mais baixos e salários muito mais elevados do que os dos jovens menos qualificados. Estudar ainda é a forma mais segura de sair da escravatura dos baixos salários e de evitar o desemprego - ver quadros.
Hoje, em Portugal, há muito mais empregos nas universidades, nas empresas de novas tecnologias, em actividades artísticas e nas indústrias criativas, em grandes empresas, nacionais ou multinacionais, do que havia há 25 anos. Nos últimos dez anos criaram-se mais empregos na investigação do que nos 50 anos anteriores. Há também mais juízes, mais médicos e mais engenheiros a trabalhar em Portugal do que alguma vez houve. A proporção de pessoas a ganhar mais de 2.000 euros é claramente superior à de há 20 anos, mesmo corrigindo pelo índice de preços. A maioria dos jovens licenciados de hoje vai ter salários reais melhores do que os dos seus pais.
Há ainda inúmeras oportunidades no estrangeiro, desde o Erasmus, às bolsas de doutoramento, a estágios pagos pelo Governo ou pela União Europeia. Nada disto existia na geração dos pais destes jovens.
Assim, não considero razoável ter pena desta geração. Há demasiados casos de sucesso para fazer generalizações. Mas, pelo que disse acima, também não aceito a critica fácil a quem tem dificuldades, com a ideia de que só tem problemas quem não quer trabalhar. Este discurso moralista ignora que esta geração enfrenta problemas diferentes dos das gerações anteriores, e que hoje o faz num contexto de uma crise particularmente dura.
3. - Por último, convido a ler o manifesto de convocação para a manifestação de amanhã, que circulou por email. É um manifesto entre o reaccionário e o esquerdismo primário, centrado na defesa do corte das despesas públicas, com um tom de populismo moralista. Um manifesto que defende a "diminuição do número de deputados" (ponto 2), uma "redução drástica dos Municípios e Juntas de Freguesia" (6 e 7), "controlar o pessoal da Função Pública" (14), para além de defender diminuições de salários e de postos de trabalho na RTP e o acabar com a subvenção à mesma televisão (20 e 21). Pergunto se são estas as questões mais importantes para a actual geração? Pergunto se partidos como o PCP e o BE estarão na manifestação a apoiar estas medidas? E se não apoiam, então o que é que lá estão a fazer?
O manifesto não contém nenhuma referência aos jovens, nem à palavra desemprego, ou à palavra licenciado. Não refere a precariedade, não fala de criar empregos. Fala principalmente de acabar. A palavra "acabar" surge 15 vezes, sendo aplicada às instituições públicas em geral, empresas municipais, financiamento dos partidos, motoristas, salários, lugares na RTP, ordenados, reformas, renovação das frotas e PPP.
Este é um manifesto que se esquece de referir os problemas dos jovens e que não aponta soluções para os mesmos. Este manifesto não está à altura de uma geração que, com todas as dificuldades que tem, é também a mais qualificada e capaz que Portugal alguma vez teve. Uma geração que merece melhor destino do que ser colada a um manifesto tão "rasca". "

terça-feira, 8 de março de 2011

ULTIMATUM FUTURISTA - DE ALMADA NEGREIROS

Que bela memória me devolveu o meu amigo Isidro Dias.
"Texto saído do génio de Almada Negreiros, "poeta, futurista e tudo", "tudo a ver com o desgraçado momento presente", lido pelo próprio, vestido de operário, em Dez./1917 no Teatro República (ex-Dona Amélia, actual Teatro Municipal de São Luís, em Lisboa) na sua "I Conferência Futurista".
Sigamos os seus pensamentos!
ULTIMATUM FUTURISTA- Às gerações portuguesas do século XX
Eu não pertenço a nenhuma das gerações revolucionárias. Eu pertenço a uma geração construtiva.
Eu sou um poeta português que ama a sua pátria. Eu tenho a idolatria da minha profissão e peso-a. Eu resolvo com a minha existência o significado actual da palavra poeta com toda a intensidade do privilégio.
Eu tenho vinte e dois anos fortes de saúde e de inteligência.
Eu sou o resultado consciente da minha própria experiência: a experiência do que nasceu completo e aproveitou todas as vantagens dos atavismos. A experiência e a precocidade do meu organismo transbordante. A experiência daquele que tem vivido toda a intensidade de todos os instantes da sua própria viva. A experiência daquele que assistindo ao desenrolar sensacional da própria personalidade deduz a apoteose do homem completo.
Eu sou aquele que se espanta da própria personalidade e creio-me portanto, como português, com o direito de exigir uma pátria que me mereça. Isto quer dizer: eu sou português e quero portanto que Portugal seja a minha pátria.
Eu não tenho culpa nenhuma de ser português, mas sinto a força para não ter, como vós outros, a cobardia de deixar apodrecer a pátria.
Nós vivemos numa pátria onde a tentativa democrática se compromete quotidianamente. A missão da República portuguesa já estava cumprida desde antes de 5 de Outubro: mostrar a decadência da raça. Foi sem dúvida a República portuguesa que provou conscientemente a todos os cérebros a ruína da nossa raça, mas o dever revolucionário da República portuguesa teve o seu limite na impotência da criação.
Hoje é a geração portuguesa do século XX quem dispõe de toda a força criadora e construtiva para o nascimento de uma nova pátria inteiramente portuguesa e inteiramente actual prescindindo em absoluto de todas as épocas precedentes.
Vós, oh portugueses da minha geração, nascidos como eu no ventre da sensibilidade européia do século XX criai a pátria portuguesa do século XX.
Resolvei em pátria portuguesa o genial optimismo das vossas juventudes. Dispensai os velhos que vos aconselham para o vosso bem e atirai-vos independentes prà sublime brutalidade da vida. Criai a vossa experiência e sereis os maiores.
Ide buscar na guerra da Europa toda a força da nossa nova pátria. No front está concentrada toda a Europa, portanto a Civilização actual.
A guerra serve para mostrar os fortes mas salva os fracos. A guerra não é apenas a data histórica de uma nacionalidade; a guerra resolve plenamente toda a expressão da vida. A guerra é a grande experiência. A guerra intensifica os instintos e as vontades e faz o Génio plo contraste dos incompletos. É na guerra que se acordam as qualidades e que os privilegiados se ultrapassam. E na violência das batalhas da vida e das batalhas das nações que se perde o medo do perigo e o medo da morte em que fomos erradamente iniciados. A vida pessoal, mesmo até a própria vida do Génio, não tem a importância que lhe dão os velhos; são instantes mais ou menos luminosos da vida da humanidade. Todo aquele que conhece o momento sublime do perigo tem a concepção exacta do ser completo e colabora na emancipação universal porque intensifica todas as suas mais robustas qualidades na iminência da explosão. E na nossa sensibilidade actual tudo o que não for explosão não existe. É mesmo absolutamente necessário prolongar esse momento de perigo até durar intensamente a própria vida. Todo aquele que se isolar desta noção não pode logicamente viver a sua época: é um resto de séculos apagados, atavismo inútil, e no seu máximo de interesse representa quando muito, a memória de uma necessidade animal de dois indivíduos e ... basta.
A guerra é o ultra-realismo positivo. É a guerra que destrói todas as fórmulas das velhas civilizações cantando a vitória do cérebro sobre todas as nuances sentimentais do coração. É a guerra que acorda todo o espírito de criação e de construção assassinando todo o sentimentalismo saudosista e regressivo. É a guerra que apaga todos os ideais românticos e outras fórmulas literárias ensinando que a única alegria é a vida. É a guerra que restitui às raças toda a virilidade apagada pelas masturbações raffinées das velhas civilizações. É a guerra que liquida a diplomacia e arruína todas as proporções do valor académico, todas as convenções de arte e de sociedade explicando toda a miséria que havia por debaixo. É a guerra que desclassifica os direitos e os códigos ensinado que a única justiça é a Força, é a Inteligência, e a Sorte dos arrojados. É a guerra que desloca o cérebro do limite doméstico prà concepção do Mundo, portanto da Humanidade. A guerra cobre de ridículo a palavra sacrifício transformando o dever em instinto. É a guerra que proclama a pátria como a maior ambição do homem. É a guerra que faz ouvir ao mundo inteiro plo aço dos canhões o nosso orgulho de Europeus. Enfim: a guerra é a grande experiência. Contra o que toda a gente pensa a guerra é a melhor das selecções porque os mortos são suprimidos plo destino, aqueles a quem a sorte não elegeu, enquanto que os que voltam têm a grandeza dos vencedores e a contemplação da sorte que é a maior das forças e o mais belo dos optimismos. Voltar da guerra, ainda que a própria pátria seja vencida, é a Grande Vitória que há-de salvar a Humanidade.
A guerra por razões de número e de tempo, acaba com todo o sentimento de saudade para com os mortos fazendo em troca o elogio dos vivos e condecorando-lhes a Sorte. A guerra serve para mostrar os fortes e salvar os fracos. Na guerra os fortes progridem e os fracos alcançam os fortes. Portugal é um país de fracos. Portugal é um país decadente: 1 – Porque a indiferença absorveu o patriotismo. 2 – Porque aos não indiferentes interessa mais a política dos partidos do que a própria expressão da pátria, e sucede sempre que a expressão da pátria é explorada em favor da opinião pública. Não é o sentimentalismo desta exploração o que eu quero evidenciar. Eu quero muito simplesmente dizer que os interesses dos partidos prejudicam sempre o interesse comum da pátria. Ainda por outras palavras: a condição menos necessária para a força de uma nação é o ideal político. 3 – Porque os poetas portugueses só cantam a tradição histórica e não a sabem distinguir da tradição-pátria. Isto é: os poetas portugueses têm a inspiração na história e são portanto absolutamente insensíveis às expressões do heroísmo moderno. Donde resulta toda a impotência prà criação do novo sentido da pátria. 4 – Porque o sentimento-síntese do povo português é a saudade e a saudade é uma nostalgia mórbida dos temperamentos esgotados e doentes. O fado, manifestação popular da arte nacional, traduz apenas esse sentimento-síntese. A saudade prejudica a raça tanto no seu sentido atávico porque é decadência, como pelo seu sentido adquirido definha e estiola. 5 – Porque Portugal não tem ódios, e uma raça sem ódios é uma raça desvirilizada porque sendo o ódio o mais humano dos sentimentos é ao mesmo tempo uma consequência do domínio da vontade, portanto uma virtude consciente. O ódio é um resultado da fé e sem fé não há força. A fé, no seu grande significado, é o limite consciente e premeditado daquele que dispõe duma razão. Fora desse limite existe o inimigo, isto é, aquele que dispõe de outra razão. 6 – Porque a constituição da família portuguesa não obedecendo, unânime ou separadamente a nenhum princípio de fé é o nosso descrédito de nação da Europa. Desde a educação familiar até depois da educação oficial inclusive o casamento a desordem faz-se progressivamente até à putrefacção nacional. E tudo tem origem na inconsciência com que cada um existe: em Portugal toda a gente é pai pela mesma razão porque falta à repartição. Do estado de solteiro para o estado de casado dá-se exclusivamente, na nossa terra, uma mudança de hábitos. Em Portugal educar tem um sentido diferente; em Portugal educar significa burocratizar. Exemplo: Coimbra. Mas na maioria o português é analfabeto e em geral é ignorante; na unanimidade o português é impostor, prova evidente de deficientíssimo. 7 – Porque a desnacionalização entre nós é uma verdade, e pior ainda, sem energias que a inutilizem nem tentativas que a detenham: a) O português com todas as suas qualidades de poliglota desnacionaliza-se imediatamente fora da pátria, e até na própria pátria, porque (com o nosso desastre do analfabetismo) a nossa literatura resume-se em meia dúzia de bem intencionados académicos cuja obra, não satisfazendo ambições mais arrojadas, obriga a recorrer às literaturas estrangeiras. Resultado: ainda nenhum português realizou o verdadeiro valor da língua portuguesa. b) O português educado sem o sentimento da pátria e acostumado à desordem dos governos criou por si a compensação inútil de dizer mal dos governos e nem poupou a pátria. Estabeleceu-se até, elegantemente, como prova de inteligência ou de ter viajado dizer mal da pátria. Isto deixa de ser decadência para ser impotência física e sexual. c) O português assimila de preferência todas as variedades de importação e em descrédito das próprias maravilhas regionalistas; o comércio e a indústria têm quase sempre de se mascararem de estrangeiros para serem eficazmente rendosos. É porque todas essas variedades da importação cumprem mais exactamente as exigências dos mercados do que os nossos comércios e indústrias regionalistas. Estas não satisfazem nem as necessidades nem as transformações sucessivas das sociedades, enquanto que a importação aparece sempre como uma surpresa e, sobretudo, obedecendo a todas as condições do que é útil, prático, actual e necessário. De modo que nem chega a haver luta – a importação entra logo com o rótulo de vitória. 8 – Porque Portugal quando não é um país de vadios é um país de amadores. A fé da profissão, isto é, o segredo do triunfo dos povos, é absolutamente alheio ao organismo português do que resulta esta contínua atmosfera de tédio que transborda de qualquer resignação. Também o português não sente a necessidade da arte como não sente a necessidade de lavar os pés. E a Literatura com todo o seu gramatical piegas e salista, diverte mais as visitas do que a necessidade de não ser ignorante. Daqui a miséria moral que transparece em todas as manifestações da vida nacional e em todos os aspectos da vida particular. 9 – Porque Portugal a dormir desde Camões ainda não sabe o novo significado das palavras. Exemplo: pátria hoje em dia quer dizer o equilíbrio dos interesses comerciais, industriais e artísticos. Em Portugal este equilíbrio não existe porque o comércio, a indústria e a arte não só não se relacionam como até se isolam por completo receosos da desordem dos governos. A palavra aventura perdeu todo o seu sentido romântico, e ganhou em valor afectivo. Aventura hoje em dia, quer dizer: O Mérito de tentativa industrial, comercial ou artística. 10 – Porque o aspecto geral dos tipos exala um extertor a podre. Portugal, uma resultante de todas as raças do mundo, nunca conseguiu a vantagem de um cruzamento útil porque as raças belas isolaram-se por completo. Exemplo: as varinas. O português, como os decadentes, só conhece os sentimentos passivos: a resignação, o fatalismo, a indolência, o medo do perigo, o servilismo, a timidez, e até a inversão. Quando é viril manifesta-se instintivamente animal a par do seu analfabetismo primitivamente anti-higiénico.
É preciso criar a adoração dos músculos contra o desfilar faminto e debilitado das instruções militares preparatórias números 1 a 50. É preciso criar o espírito da aventura contra o sentimentalismo literário dos passadistas. É preciso criar as aptidões pró heroísmo moderno: o heroísmo quotidiano. É preciso destruir este nosso atavismo alcoólico e sebastianista de beira-mar. É preciso destruir sistematicamente todo o espírito pessimista proveniente das inevitáveis desilusões das velhas civilizações do sentimentalismo. É preciso educar a mulher portuguesa na sua verdadeira missão de fêmea para fazer homens.
É preciso saber que sois Europeus e Europeus do século XX. É preciso criar e desenvolver a actividade cosmopolita das nossas cidades e dos nossos portos.
É absolutamente necessário resolver o maravilhoso citadino da nossa capital até ser a maior ambição dos nossos dialectos e das nossas províncias.
É preciso explicar à nossa gente o que é democracia para que não torne a cair em tentação.
É preciso violentar todo o sentimento de igualdade que sob o aspecto de justiça ideal tem paralisado tantas vontades e tantos génios, e que aparentando salvaguardar a liberdade, é a maior das injustiças e a pior das tiranias. É preciso ter a consciência exacta da Actualidade. É preciso substituir na admiração e no exemplo os velhos nomes de Camões, de Vítor Hugo, e de Dante pelos Génios de Invenção: Edison, Marinetti, Pasteur, Elchriet, Marconi, Picasso, e o padre português, Gomes de Himalaia.
FINALMENTE: é preciso criar a pátria portuguesa do século XX.
DIGO SEGUNDA VEZ: é preciso criar a pátria portuguesa do século XX.
DIGO TERCEIRA VEZ: é preciso criar a pátria portuguesa do século XX.
Para criar a pátria portuguesa do século XX não são necessárias fórmulas nem teorias; existe apenas uma imposição urgente: Se sois homens sede Homens, se sois mulheres sede Mulheres da vossa época.
Vós, ó portugueses da minha geração, que, como eu, não tendes culpa nenhuma de serdes portugueses. Insultai o perigo. Atirai-vos prà glória da aventura. Desejai o record. Dispensai as pacíficas e coxas recompensas da longevidade. Divinizai o Orgulho. Rezai a Luxúria. Fazei predominar os sentimentos fortes sobre os agradáveis. Tende a arrogância dos sãos e dos completos. Fazei a apologia da Força e da Inteligência. Fazei despertar o cérebro espontaneamente genial da Raça Latina. Tentai vós mesmos o Homem Definitivo. Abandonai os políticos de todas as opiniões: o patriotismo condicional degenera e suja; o patriotismo desinteressado glorifica e lava. Fazei a apoteose dos Vencedores, seja qual for o sentido, basta que sejam Vencedores. Ajudai a morrer os vencidos. Gritai nas razões das vossas existências que tendes direito a uma pátria civilizada. Aproveitai sobretudo este momento único em que a guerra da Europa vos convida a entrardes prà Civilização. O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, Portugueses, só vos faltam as qualidades."
Lisboa, Dezembro de 1917.

Texto partilhado de Luis Belo de Morais "Às gerações portuguesas do séx XXI"

Magnifico texto do meu amigo Luís Belo de Morais - "ÀS GERAÇÕES PORTUGUESAS DO SÉC. XXI"
Acabemos com este maelstrom de chá morno! Mandem descascar batatas simbólicas a quem disser que não há tempo para a criação! Transformem em bonecos de palha todos os pessimistas e desiludidos! Despejem caixotes de lixo à porta dos que sofrem da impotência de criar! Rejeitem o sentimento de insuficiência da nossa época! Cultivem o amor do perigo, o hábito da energia e da ousadia! Virem contra a parede todos os alcoviteiros e invejosos do dinamismo! Declarem guerra aos rotineiros e aos cultores do hipnotismo! Livrem-se da choldra provinciana e da safardanagem intelectual! Defendam a fé da profissão contra atmosferas de tédio ou qualquer resignação! Façam com que educar não signifique burocratizar! Sujeitem a operação cirúrgica todos os reumatismos espirituais! Mandem para a sucata todas as ideias e opiniões fixas!
Mostrem que a geração portuguesa do século XXI dispõe de toda a força criadora e construtiva! Atirem-se independentes prá sublime brutalidade da vida!
Dispensem todas as teorias passadistas! Criem o espírito de aventura e matem todos os sentimentos passivos! Desencadeiem uma guerra sem tréguas contra todos os "botas de elástico"! Coloquem as vossas vidas sob a influência de astros divertidos! Desafiem e desrespeitem todos os astros sérios deste mundo!
Incendeiem os vossos cérebros com um projecto futurista! Criem a vossa experiência e sereis os maiores! Morram todos os derrotismos! Morram! PIM!"

Enxerto de "Inimigo sem rosto - Fraude e Corrupção em Portugal"

De "O inimigo sem rosto - Fraude e Corrupção em Portugal", de Maria José Morgado e José Vegar, Publicações D. Quixote, 4ª ...edição, páginas 58/59.
DECÁLOGO DO CORRUPTO -
I - Nunca te esquecerás que a ética kantiana é uma teoria impraticável e que são o poder e a ambição que ditam todas as acções dos homens. II - Terás sempre em atenção que deves usar o teu poder para servir os que ainda estão acima de ti e para seres indispensável aos que estão abaixo de ti. III - Jamais terás dúvidas de que o dinheiro que geras para ti e para os teus é o melhor atalho para consolidar e aumentar o teu poder. IV - Realizarás todos os teus atos na sombra, em silêncio, sem provas, sem testemunhas, longe de documentos e especialmente ao largo de telemóveis. V - Procurarás nunca desapontar os teus amos e nunca renegar os teus cumplices, especialmente se estes forem familia, ou tiverem tido acesso à tua intimidade. VI - Estarás sempre vigilante em relação aos que te invejam e aos que, por formalismos legais ou por suspeita, querem fiscalizar as tuas acções. Encontrarás meios para os desacreditar ou, em último caso, os eliminar. VII - Construiás diariamente uma teia, com fios feitos por lideres que graças a ti treparão mais alto, por funcionários que através de ti chegarão ao lucro, e por novas entidades que deixarás os teus liderarem. VIII - Deverás estar atento a todas as oportunidades de mercado, sabendo que elas são infinitas, e estudarás especialmente as novas formas de negócios, ou seja, o modo de as usares a teu favor. IX - Serás cirúrgico e assético no modo de contornar as leis, os regulamentos e os códigos, e atraírás a ti os melhores especialistas para te ajudarem a camuflar e a fazerem desaparecer todos os traços das tuas actividades. X - No caso extremamente improvável de seres apanhado, gritarás inocência até ao fim, marcarás conferências de imprensa para proclamar o teu horror e quando te confrontares com a tua consciência, dirás a ti próprio que fizéstes tudo para bem do povo e dos seus representantes.

"QUANDO A POLÍTICA METE NOJO!"

Retirado, ipsis verbis, do Jumento.
"Vejo por aí gente a comentar, ou melhor, a manifestar o desejo mal disfarçado de uma bancarrota nacional com o consequente pedido de ajuda a entidades estrangeiras com tanta ignorância sobre o assunto e um tão grande desprezo pelo que tal pode significar para a maioria dos portugueses que quase chego ao vómito. Um dos mais recentes admiradores da intervenção do FMI é um tal Marques Mendes, um político de pequena estatura intelectual que o melhor que conseguiu na sua fulgurante corrida política foi ter ficado a ser conhecido pelo Ganda Nóia. Que se saiba o homem nunca soube para além da baixa política de corredor, mas desde que é empregado de um tal Joaquim Coimbra, um bem-sucedido empresário e dirigente do PSD cujo ponto mais alto da carreira foi a participação no BPN e no BPP e a compra do semanário Sol.
Esta gente nada sofrerá se o país for à bancarrota ou se o FMI impuser medidas brutais de austeridade, vivem da generosidade de empresários que enriqueceram à presa e apenas pretendem que a desgraça colectiva os ajude a regressar às mordomias e corrupção do poder. Estando a coberto das consequências negativas das políticas de austeridade que só por cinismo dizem recear, esperam que seja o FMI a impor ao país as mudanças que há muito pretendem mas cuja adopção os portugueses sempre rejeitaram. Querem que sejam estrangeiros a decidir aquilo que nunca foram capazes de convencer os portugueses a adoptar.
A esta gente pouco importa que os gregos e irlandeses pouco tenham ganho com a intervenção do FMI, que a receita desta organização se traduza em mais desemprego e menos crescimento económico. Quando uma boa parte dos grandes empresários portugueses rejeita a vinda do FMI ao mesmo tempo que a maioria dos políticos europeus estão preocupados em recuperar a estabilidade financeira que põe em risco o próprio euro, estes oportunistas não olham a meios porque há quase uma década que por incompetência própria têm sido rejeitados pelos eleitores portugueses.
A mesma direita que quando estava desesperada encontrava na mudança de programa do PSD ou na refundação da direita, acha agora que a solução para a sua incompetência é a vinda do FMI, mesmo sabendo que isso não representa a solução dos nossos problemas. O que gente fraca como Marques Mendes quer é chegar ao poder a qualquer custo, impor as mudanças que lhe foram encomendadas pelos seus financiadores e depois atribuirão as culpas todas as Sócrates, as culpas por se ter chegado a uma situação e até as culpas por um acordo com o FMI por eles conduzido de forma a promoverem, por exemplo, uma revisão constitucional que propuseram para logo depois a terem metido na gaveta.!

domingo, 6 de março de 2011

Operário em construção (adaptação livre de um poema de Vinicius de Moraes)

Era ele que erguia casas e amontoava pedra ante pedra onde antes só havia chão. Como um pássaro sem asas ele subia pelas arestas que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconhecia de sua grande missão: Não sabia, por exemplo, que a casa de um homem é um templo, um templo sem religião. Como tão-pouco sabia que a casa que ele fazia, sendo a sua liberdade era também a sua escravidão.
De facto, como podia um operário em construção compreender porque um tijolo e uma pedra valiam mais do que um pão? Tijolos e pedras ele empilhava com indiferença, pá, cimento e esquadria! Quanto ao pão, ele sofregamente, extenuado, ao fim do dia, o devorava e o comia! E assim o operário ia com suor e com cimento, pedra a pedra, erguendo uma casa aqui, adiante um apartamento, além uma igreja, à frente um quartel e uma prisão. Prisão de que não sofria não fosse ele tão-somente um simples operário em construção. Mas ele desconhecia esse facto extraordinário: que o operário faz a coisa e a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia à mesa, ao cortar a pedra, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo o que havia naquela casa - chão, parede, porta, janela - era gente como ele quem os fazia. Como ele, um humilde operário, apenas mais um operário em construção. Olhou em torno e viu que, para além de tudo aquilo, havia lá fora um bairro, uma rua, uma cidade, um país, uma nação! Tudo, tudo o que existia, era gente como ele quem os fazia. Como ele, um vulgar operário que sabia apenas exercer a sua profissão.
Ah, homens de livre pensamento, não sabereis nunca o quanto aquele mais normal operário soube naquele preciso momento. Naquela casa vazia, que ele mesmo levantara um mundo novo nascia de que ele nem sequer suspeitara. Então, o operário emocionado, olhou a sua própria mão, a sua rude mão de operário, de operário em construção. E olhando bem para ela, teve num segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro dessa compreensão, desse instante solitário, que, tal como a sua construção, cresceu também o operário. Cresceu em alto e profundo, em largo e no coração e, como tudo o que cresce, ele não cresceu em vão. Pois além do que sabia - Exercer a profissão – o operário adquiriu uma nova dimensão: A dimensão da poesia.
E um facto novo se viu que a todos admirava: O que o operário dizia, o outro operário escutava. E foi assim que o operário do edifício em construção que sempre dizia "sim" começou a dizer "não" e aprendeu a notar coisas a que não dava atenção. E o operário dizia, quando assim o entendia: Não! E o operário fez-se forte na sua resolução, na sua novíssima revolução! Como era de se esperar, as bocas da delação começaram a dizer coisas aos ouvidos dos senhores de preto que neles mandavam. Mas estes nem concebiam tal preocupação. - "Convençam-no" do contrário - Diziam ele sobre o operário. E ao dizerem isto sorriam.
No dia seguinte o operário, ao sair da construção viu-se de súbito cercado dos homens da delação e sofreu por destinado a sua primeira agressão. Teve o seu rosto cuspido e o seu braço quebrado, mas quando lhe foi perguntado o operário continuou a dizer: Não! Em vão sofrera o operário a sua primeira agressão, muitas outras seguiram, muitas outras se seguirão. Porém, por imprescindível ao edifício em construção, o seu trabalho prosseguia e todo o seu sofrimento se misturava com o peso das pedras e com a rudeza do cimento da construção.
Sentindo que a violência não dobraria o operário, um dia os senhores tentaram dobrá-lo de modo contrário, de sorte que o foram levando ao alto da construção, e num fugaz momento mostraram-lhe toda aquela imensa e rica região e apontando-a ao operário fizeram-lhe esta declaração: - Dar-te-emos todo este poder e satisfação. Porque a nós foi entregue e damo-la a quem quiser. Damos-te tempo de lazer e tempo de mulher. Portanto, tudo o que vês será teu se nos obedeceres e ainda muito mais virá a ser teu, se abandonares o que te faz dizer não. Disseram isto e fitaram o cortador da pedra que olhava e reflectia, mas o que via o operário os outros não viam. O operário via casas e dentro das estruturas, via coisas, objectos, produtos, manufacturas. E em cada coisa que via misteriosamente havia a marca da sua mão. E o operário continuou a dizer: Não! - Loucura! – gritaram os senhores de preto - Não vês o que te damos? - Mentira! - disse o operário. Não podem dar-me o que já é meu.
E um grande silêncio fez-se dentro do seu coração. Um silêncio de martírios, um silêncio de prisão. Um silêncio povoado de pedidos de perdão, um silêncio apavorado com o medo em solidão. Um silêncio de torturas e gritos de maldição, um silêncio de fracturas que se arrastaram pelo chão. E o operário ouviu, uma e outra vez, a voz de todos os seus irmãos, os irmãos que morreram, por outros que viverão.
Uma esperança sincera cresceu então no seio da sua alma e adentro da tarde mansa agigantou-se a razão de um cortador de pedra pobre e esquecido: Razão porém que fizera do operário construído o operário em construção.

sexta-feira, 4 de março de 2011

"TODA A VIDA EUROPEIA MORREU EM AUSCHWITZ"


Magnifico texto que dificilmente sairia em Portugal com tamanha acutilância. Reproduzo.
"TODA A VIDA EUROPEIA MORREU EM AUSCHWITZ" - Por Sebastian Vilar Rodriguez
Desci uma rua em Barcelona, e descobri repentinamente uma verdade terrível. A Europa morreu em Auschwitz. Matámos seis milhões de Judeus e substituímo-los por 20 milhões de muçulmanos.
Em Auschwitz queimámos uma cultura, pensamento, criatividade, e talento.
Destruímos o povo escolhido, verdadeiramente escolhido, porque era um povo grande e maravilhoso que mudara o mundo.
A contribuição deste povo sente-se em todas as áreas da vida: ciência, arte, comercio internacional, e acima de tudo, como a consciência do mundo. Este é o povo que queimámos.
E debaixo de uma pretensa tolerância, e porque queríamos provar a nós mesmos que estávamos curados da doença do racismo, abrimos as nossas portas a 20 milhões de muçulmanos que nos trouxeram estupidez e ignorância, extremismo religioso e falta de tolerância, crime e pobreza, devido ao pouco desejo de trabalhar e de sustentar as suas famílias com orgulho.
Eles fizeram explodir os nossos comboios, transformaram as nossas lindas cidades espanholas, num terceiro mundo, afogando-as em sujeira e crime.
Fechados nos seus apartamentos eles recebem, gratuitamente, do governo, eles planeiam o assassinato e a destruição dos seus ingénuos hospedeiros.
E assim, na nossa miséria, trocámos a cultura por ódio fanático, a habilidade criativa, por habilidade destrutiva, a inteligência por subdesenvolvimento e superstição.
Trocámos a procura de paz dos judeus da Europa e o seu talento, para um futuro melhor para os seus filhos, a sua determinação, o seu apego à vida porque a vida é santa, por aqueles que prosseguem na morte, um povo consumido pelo desejo de morte para eles e para os outros, para os nossos filhos e para os deles.
Que terrível erro cometido pela miserável Europa."