A meio de um apontamento de opinião sobre a situação da Ucrânia, lembrei-me disto, pensando nos velhos e nas crianças em sofrimento, sempre mais frágeis. Há um poema de Paul Celan, o "Branco", que nos atira para a ferida da fragmentação e da alma quebrada. "Quando o branco nos agrediu, de noite; quando do púcaro das esmolas saiu mais do que água; quando o joelho esfolado fez sinal à campaínha do sacrifício: Voa! - Então estava eu ainda inteiro." Este sentido de "du wirst nicht grau", não envelheces, amplia-se lendo o poema Álamo (Espenbaum) onde a morte cruel e prematura da mãe nos é contada, usando a mesma imagem do cabelo que não chega a poder branquear com a idade; tal não foi permitido... "Álamo, a tua folhagem espreita branca na escuridão. O cabelo da minha mãe nunca foi branco. Dente-de-leão, verde como tu é a Ucrânia. A minha loura mãe não voltou para casa. Nuvem de chuva, demoras-te nas fontes? Minha mãe silenciosa chora por todos. Estrela redonda, atas o nó de ouro. O coração da minha mãe foi ferido com chumbo. Porta de carvalho, quem te desengonçou? A minha suave mãe não pode vir." Este poema foi escrito em 1945, em Bucareste, relembrando a mãe, assassinada na Ucrânia, no campo de concentração alemão Michailowka de Gaissin, no Inverno de 42-43. Um País sofrido, um Povo sofrido. AM