segunda-feira, 17 de março de 2014

A Política faz-se na sala. A politiquice faz-se no quarto. Entre ambas tem de haver uma cortina.


Estou siderada pela negativa com a reacção ao chumbo da co-adopção no Parlamento pelo militante do PSD, Carlos Reis [foi vice-presidente e director do gabinete de estudos do PSD e presidente da distrital de Lisboa do partido], que apontou críticas à “hipocrisia” do CDS e à presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves. Não estou constrangida porque fez críticas mas sim pelos teor destas. “O CDS mete-me nojo e causa-me escândalo moral. A hipocrisia de um Partido Político que é liderado por um homossexual mas que vota a favor da continuidade da discriminação de famílias e da orfandade forçada de crianças ultrapassa a minha capacidade de verbalização”, escreveu Carlos Reis no facebook. E criticando a segunda figura do Estado Português. “Também me causa repulsa o papel ignóbil da Presidente Assunção Esteves: uma lésbica não poderia hoje recusar-se a participar naquela votação”. E estou siderada porque quer Paulo Portas quer Assunção Esteves nunca manifestaram em público a sua orientação sexual e não me apraz ver armas de arremesso com comportamentos que pertencem à vida privada de cada um até que cada um as torne públicas e as assuma. Só me pronuncio, e ainda assim sem fazer juízos de valor, sobre factos e actos provados. Ocorre que nunca estive na cama nem como Portas nem com Assunção pelo que desconheço os seus gostos na dita. Igualmente, não sou mosca, pelo que nada vi nem ouvi. “Mostraram serem mulheres sem coluna vertebral e sem consciência”, conclui Carlos Reis. Não gosto desta atitude. São figuras publicas e respeito-os como pessoas. E respeitá-los-ia igualmente se conhecesse tais "preferências". Carlos Reis é jurista e foi o autor do artigo “Carta aberta ao presidente da JSD e seus compagnons de route”, publicado no Público, onde condenava a posição da juventude do PSD sobre a proposta da realização do referendo à adopção e à co-adopção e que teve grande repercussão dentro do partido. Fê-lo no seu direito. A Política é um assunto de sala. A politiquice é um assunto de quarto. Quem se quer manter na sala com todos não espreite entre as cortinas do quarto de cada um. Não claudico em matérias deste teor. Já me custou demasiado na vida esta minha teimosia, mas não abdico dela. Afasto cortinas da sala mas preservo as do quarto. - aqui fica o comentário na íntegra do Carlos Reis no face. "Sobre a votação de hoje: o CDS mete-me nojo e causa-me escândalo moral. A hipocrisia de um Partido Político que é liderado por um homossexual mas que vota a favor da continuidade da discriminação de famílias e da orfandade forçada de crianças ultrapassa a minha capacidade de verbalização. Mas também me causa repulsa o papel ignóbil da Presidente Assunção Esteves: uma lésbica não poderia hoje recusar-se a participar naquela votação. Causa-me estupefacção que 2 Deputadas do PSD tenham alterado o seu sentido de voto: mostraram serem mulheres sem coluna vertebral e sem consciência. E lamento por hoje 6 Deputados terem faltado: nós pagamos-lhe salário para eles votarem (e isto vale para o Deputado do PCP e para os 3 do PS que não puseram os pés no Parlamento). Mas uma coisa é certa: foi renhida. Registo no entanto aqui que se todos os Deputados da pseudo-esquerda tivessem comparecido hoje a votação teria sido histórica. E que apesar de tudo, no PSD ainda há homens e mulheres, humanistas, e liberais ao velho estilo de Sá Carneiro: Liberais onde conta - na vida das pessoas concretas, que se querem livres e emancipadas."