Estamos
todos a coberto de uma nostalgia nunca antes ensaiada, nunca antes
experimentada, apanhados num turbilhão de uma crise de valores transversal à
sociedade e que toma vida própria, como um fantasma, no dia a dia de todos nós.
Há
quem entenda que a crise que o país
atravessa se deve ao estilo de vida dos portugueses, que teriam adoptado uma
"vida de cigarra" em vez de uma "vida de formiga", desde
que entrámos no euro. Somos muito dados a essa “coisa”
extraordinariamente portuguesa que é a saudade e o fado, e isso pode ter-nos
impelido para algumas cantorias que pagamos a preço de oiro (basta ver as
lojecas que proliferam, como coelhos, como cogumelos, a cada esquina).
Mas esta devastadora crise não é de
hoje. Desde 2001 que Portugal cresceu a pouco mais de 1% ao ano, situando-se muito
abaixo da taxa de crescimento dos países que, até aí, rivalizavam connosco,
mais ou menos em pé de igualdade, na União Europeia. Nesse período, a Grécia e
a República Checa cresceram cerca de 4% ao ano, a Eslováquia 6% ao ano e os
países bálticos mais de 8% ao ano. No ranking do PIB per capita, Portugal foi
ultrapassado pela República Checa em 2005 e em 2008 foi ultrapassado pela
Eslováquia e pela Estónia. E, a partir daí, é o descalabro conhecido!
Estudos feitos confirmam que Portugal
irá pagar, nos próximos dez anos, o compromisso de amortização de uma dívida
que, a breve prazo, chegará ao triplo do que se pagou em 2012. Trata-se, cada
vez mais o admitem, de uma dívida impagável. As manifestações a que hoje assistimos
não são mais que o produto de uma mobilização de indignação que, em última
linha, chegam mesmo a questionar as razões da democracia!. A falta de
alternativas sólidas da esquerda à direita oferecem-nos discursos baralhados, a
começar pelas hipóteses de coligações pelo PS à sua direita, descaracterizando,
assim, os eleitorados do PS e do CDS-PP. Se a crise vale para ultrapassar estes
dogmas, pode ser que sim, desde que ambos comunguem de uma mesma ideia: contra
a dívidadura, marchar, marchar!
Um
estudo da Ernst & Young conclui que o fosso entre economias prósperas e os
países em crise da zona euro vai agravar-se nos próximos três anos, apontando
para um crescimento da Europa a duas velocidades e colocando Portugal
está no grupo dos países em velocidade lenta. O mesmo estudo confirma que o crescimento
da Espanha, Grécia, Irlanda, Itália e Portugal, até 2015, não irá além de 0,5%,
por contraponto ao progresso de 9% que os restantes 12 países da zona euro
deverão registar. Ora, o ritmo de crescimento lento, a par com a quebra no
investimento público, taxa de desemprego elevada e recuo no consumo público e
privado são alguns dos indicadores que definem um país “pobre”, o que significa
que, sendo visível o fosso entre países relativamente prósperos do norte da
Europa e os países em crise do sul do continente prosseguirá, Portugal continuará
a ser um dos países mais desiguais do mundo desenvolvido, sendo aquele que a
desigualdade é das mais acentuadas entre as economias europeias. Em suma, reúne
as condições para ser classificado com um país pobre. Secundando, assim, um
outro estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
(OCDE) “Divided We Stand: Why Inequality Keeps Rising”, que demonstrou que o
fosso entre ricos e pobres em Portugal atingiu o nível mais elevado dos últimos
30 anos, provando que os 20% mais ricos têm rendimentos seis vezes superiores
aos dos 20% mais pobres.
A par deste cenário catastrófico, o consultor
Jack Soifer defende que Portugal tem um "potencial gigantesco para poder
sair da crise" se aumentar as exportações e diminuir as importações, mas salienta
que essas
potencialidades ou recursos "não estão nas cidades, mas sim nas zonas
urbanas e no mar", lembrando que a maioria dos portugueses desconhece, por
exemplo, que "os grandes produtores especializados de flores, árvores
bonsai, pimentos e flor de sal estão em Portugal".
Gosto
especialmente desta referência ao mar. A esse mar que já nos fez ser tudo e de
que hoje ninguém se lembra ou valoriza, depois de termos assistido, obedecido,
impávidos, às ordens de Bruxelas que culminaram na destruição do sector das Pescas.
E quando vejo este
imenso mar, quando choro o meu amado País, lembro sempre, triste e desencantada
que esquecemos o que fomos e o que somos. “Ó mar salgado, quanto do teu sal.
São lágrimas de Portugal!”