É tenebroso,
mas não se pode virar a cara para o lado, face ao facto de a Associação
Portuguesa de Apoio à Vitima (APAV) ter recebido, em média, 19 denúncias de
violência doméstica por dia. Segundo o relatório
estatístico da APAV, 76.582 pessoas recorreram aos serviços daquela
instituição entre 2000 e 2011. As vítimas são, muitas vezes, alvo de vários
crimes em simultâneo e, por isso, a APAV registou, nos últimos onze anos,
172 mil crimes de violência doméstica, sendo os mais usuais os maus
tratos psíquicos (cerca de 50 mil), maus tratos físicos (46 mil) e
ameaças e coação (mais de 33 mil). Os casos de abuso sexual e violação
representam mais de três mil crimes. As
vítimas são habitualmente mulheres (em 2002, representaram nove em cada dez
casos), na faixa etária entre os 26 e os 45 anos, e os agressores costumam ser
homens adultos - um em cada quatro tem entre 26 e 45 anos de idade -- e,
em mais de metade das situações, são companheiros das vítimas. Entre 2000 e
2011, a APAV recebeu 656 denúncias relacionadas com bebés até aos três
anos, 586 casos de violência contra crianças entre os quatro e os cinco
anos e 1551 entre os seis e os dez anos.
Porque se maltrata
alguém? Nalguns dos casos, por hábito
provindo daquele consentimento aceite pela sociedade. Alguém – todos – devíamos
explicar que por ser culturalmente aceito não deixa de ser legal e imoral. As coisas
têm de mudar. Educar e estabelecer limites não assenta no medo mas no respeito.
Nunca pode assentar num castigo físico. Os filhos aprendem a solução de
conflitos pela força - e tenderão a reproduzir esse modelo não só junto às suas
famílias, mas em todas as relações interpessoais, na rua ou no trabalho.
Mas como toda a moeda tem a outra face, mais de três mil pais
foram mal tratados pelos filhos. Mais de três mil pais foram vítimas, nos
últimos oito anos, de maus tratos infligidos pelos próprios filhos, tendo
recorrido à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), que viu duplicar o número de casos entre 2004 e
2011. Entre 2004 e 2011, a APAV registou 3.380 processos de país vítimas de
crimes de violência doméstica por parte dos filhos em ambiente doméstico. Em
2004, a associação recebeu 299 pedidos de ajuda que foram sempre aumentando ao
longo dos anos até atingirem no ano passado os 591 casos.
No relatório estatístico agora divulgado, a APAV sublinha que nestes oito
anos registou um aumento processual de 97,7%.
Por detrás de cada denúncia estava por vezes mais do que um crime. No
total, a APAV registou 7.805 factos criminosos, sendo a maioria associada a
maus tratos psíquicos (34%), físicos (29,1%) e ameaças e coação (19,3%).
As mães são as principais vítimas (59% dos casos) e os filhos rapazes os
principais agressores (72% dos casos).
Quatro em cada dez casos dizem respeito a vítimas com mais de 65 anos,
tendo um terço dos agressores entre 18 e 35 anos.
Violência gera violência!
Uma sociedade mede-se pela forma como trata as suas crianças e os seus idosos.
Estamos mal no retrato.