domingo, 19 de agosto de 2012

até a barraca abana .... ou cai|


Não foi preciso um mês para que Pedro Passos Coelho, na Festa do Pontal, repensasse toda a sua estratégia – eu quero acreditar que o nosso Primeiro tem estratégia – e do que disse a 24 do mês passado: - "Se algum dia tiver de perder umas eleições em Portugal para salvar o País, como se diz, que se lixem as eleições.", ficou-se, a 22 dias depois, dia 14 de Agosto, por dizer: "Só estamos a um quarto do mandato e temos a ambição de renová-lo."
Não deve haver calo mais apetitoso que o do poder. É assim como um vírus perfumado. O santo padroeiro dos políticos, São Tomás More, precisava de se debruçar sobre esta nossa comunidade política até porque o desaparecimento dos documentos do processo submarinogate já é, de per si, um milagre. O único padroeiro que nos pode retirar deste estado de coisas é o santo (de)voto, mas parece que nem sempre lhe lançamos as suplicas certas. Aguarde-se o milagre do voto.
As ideias e propostas que Passos Coelho transmitiu aos portugueses não trazem novidades nem alternativas. O palavreado faria corar Tomás More, de tão desconexo e tremelado. Ficámos a conhecer as políticas da governação externa (da troika) e, destacadamente, da governação interna (do PSD/PP). Já sabíamos que a vida de milhões de portugueses é um inferno (desemprego, sobrendividamento, falências e insolvências, entregas de casas ao banco ….) ficámos com a certeza que não há luz ao fundo do túnel.
O Primeiro omitiu opinião sobre o enquadramento de Portugal na União Europeia (U.E.) e sobre a falta de política e a trapalhada que está a ser cometida nesse espaço; nada disse sobre o significado dos graves indicadores sobre o emprego e a economia, e não apresentou qualquer medida política nessas áreas vitais; refugiou-se na Constituição da República Portuguesa nomeando-a como obstáculo e fez graça com a "regra de ouro" para legitimar a falta de investimento; “anunciou aos portugueses mais austeridade, sem um mínimo de garantia de os violentos sacrifícios nos conduzirem a um futuro melhor.” (como diz o Carvalho da Silva num texto que me serviu de inspiração).
Já ninguém tem dúvidas que a dívida continuará a aumentar. Que os “nossos” juros e compromissos  conduzem inevitavelmente para um buraco que ora alarga ora aumenta, e que economia enfraquece. Queda da produção industrial de 4,4%. Exportações a desacelerar. Crescimento da exportação de ouro! Pudera! Mil lojecas por tudo quanto é rua (ou mais  beco). Estranha forma de aplicar o provérbio “vão-se os anéis ficam-se os dedos”.
Destruição de emprego: mais 205 mil pessoas. 827 000 desempregados. Cerca de 1,3 milhões de desempregados e subempregados?
Onde está a boa nova para a juventude? E lá fica a “geração canguru”, alguns já nos 30, em casa dos pais, muitos já de volta “para o seu aconchego”!
Cerca de 70% dos alunos universitários pensam emigrar, surgindo um novo movimento de emigrantes encabeçado pelos estudantes de engenharia, de tecnologias e de arquitetura. Não esqueçamos que isso provocará uma recessão no conhecimento e, por consequência, uma degradação do saber a médio prazo, com a qualificação a ressentir-se.
E nem se comenta a afirmação de que “vai haver crescimento económico num quadro de acentuada quebra salarial, de inexistência de investimento, de privatizações oportunistas, de destruição de empresas, de reformismo retrógrado no ensino e na saúde, de aumento dos combustíveis e das rendas de casa.” (Carvalho da Silva)
A distância do discurso do PM só mostra que as eleições contam ainda mais que tudo. Que entrámos numa teatralidade cujo enredo e the end está à vista de tão polida e trabalhada que está.
Acompanho os que opinam que melhor seria não ter existido Pontal este ano. Sentimo-nos defraudados. O discurso não colou. Percebemos que estamos mergulhados num mundo de alienação política em que nada se vê de concreto. Nada é solucionável, mas tudo é solúvel.
Em vez de começarem já a montar campanha eleitoral vejam lá s descobrem uns ferrinhos para ir segurando isto, é que “a barraca abana” e, por ventura, “cai”!