domingo, 30 de outubro de 2011

Justiça e comediantes


"A justiça é um sector de graves ineficiências. Do Ministério Público aos Tribunais de diversos tipos e hierarquias, as regras, as leis e o funcionamento constituem fonte de inaceitáveis passividades e complacências. Os poderosos, grandes empresários ou políticos, são os primeiros beneficiários da ‘Torre de Babel’ do sistema de justiça português.
Além dos autoproclamados brandos costumes, somos o País das inexpugnáveis elites no poder, e na justiça em particular; elites tão inamovíveis, quanto um gigantesco bloco de mármore que, apenas à força de ser retalhado, se converte em peças dispersáveis. Todavia, a nossa incapacidade para retalhar as elites é congénita. Assim, a pesadíssima magistratura, ano após ano, lá vai permanecendo igual a si própria, aqui e acolá semelhante a uma máquina de museu, apetrechada de peças bastante truncadas.
O fenómeno mediático também é ingrediente importante de todo este caldo. De facto, a endémica tentação do exibicionismo dos magistrados em geral, associada ao insaciável apetite da comunicação social por sensacionalismo, favoreceu a transformação justiça em Portugal em espectáculo dos comediantes de negro, dos mais funestos da história das nossas vidas. A arte desses comediantes é tecer complicadas teias de casos com duração a tender para o infinito: ‘Casa Pia’, ‘Freeport’,‘Face Oculta’, ‘BPN’, ‘BPP’, ‘BCP’ e outros. Devem acrescentar-se, ainda, processos envolvendo o poder central e o autárquico, cujos efeitos para o País e populações são, em muitas ocasiões, nocivos.
Todos os réus são presumidos inocentes até que a sentença transite em julgado definitivamente. Mas o pior é que os tais comediantes de negro, com quem tropeço a cada instante em telejornais ou páginas de jornal, formam um complexo aparelho autocrático, burocrático e improdutivo. Causam-me náuseas e repulsa, por sermos milhões a sustentar ineficiências e ineficácias desse anacrónico sistema, que parece seleccionar arbitrariamente quando e sobre quem deve actuar.
Comediantes por comediantes, prefiro os autênticos, os cantados e exaltados, por exemplo, por Charles Aznavour, na companhia de Liza Minnelli." (aventar, blog)