Maria Magdalena – O mistério de Maria Madalena, a Sophia Gnóstica. Maria Madalena chamava-se, em hebraico, «Mariamne». No início do Cristianismo, quando se falava de «Maria», era de «Maria Magdalena», e não de «Maria mãe de Jesus», que se falava. Muitas correntes do pensamento cristão, (nomeadamente os gnósticos), defendiam que havia um papel de líder espiritual na herança religiosa que Jesus deixara no mundo e que este pertencia a Maria Magdalena e não a Pedro.
Vários são os exemplos históricos do reconhecimento deste apóstolo de Jesus.
Hipólito, Bispo de Roma ( 170-235 d.C), afirmou que «Maria Madalena é o apostolo dos apóstolos». Santo Agostinho, afirmou que «os apóstolos receberam das mulheres o anúncio do evangelho». Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena «(…) Ela foi anuncia-lo aos seguidores de Jesus, que estavam de luto e chorosos. Quando ouviram que ele estava vivo, (…) não quiseram acreditar.» (Marcos 16,9-11)
Muito se tem debatido sobre se Maria Madalena seria a companheira, ou melhor, discute-se que espécie de companheira, de Jesus. Está escrito no Evangelho de João: «Maria virou-se e viu Jesus de pé (…) então Jesus disse: «Maria». Ela virou-se e exclamou em hebraico:«Rabuni!» (…) Jesus disse: «Não me segures, porque ainda não voltei para o meu pai. Mas vai e dizer aos meus irmãos (….) Então, Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos:«Eu vi o Senhor». E contou o que Jesus tinha dito. (João 20,14-18)
Jesus diz a Maria: «Não me segures», que em hebraico significa «não me toques», ou «Não me abraces». De que forma abraçaria Maria a Jesus? Maria «abraça», (ou tenta abraçar) Jesus; alguns historiadores defendem, que nos tempos de Jesus, na sociedade e cultura hebraicas do tempo de então, uma mulher apenas tocaria, ou abraçaria, o seu próprio marido, pois nunca lhe seria permitido tocar noutro homem senão o seu companheiro.
As mais recentes descobertas de textos apócrifos ocorridas no Mar Morto, em Qumran e Nag Hamadi, deram a conhecer, com muito acerto histórico, quase todas as correntes de pensamento gnóstico dos primeiros séculos do cristianismo. Nesses textos, é-nos revelado uma Maria Madalena companheira de Jesus. Jesus e Maria eram tratados como um casal, o par que incorporou a essência do masculino e do feminino, um dueto celestial que incorpora o próprio conceito da criação. Jesus foi visto como um ser humano dentro do qual habitava um espírito celestial superior, (o de Cristo), e Maria Madalena foi tida também como um ser humano no qual habitava um outro ser celestial, a Sophia, ou a sabedoria. No texto Pitis Sophia, Jesus assim disse sobre Maria Madalena: «Maria, tu procuras a verdade (…) e, com o teu zelo, levas luz a tudo.» V, 10-13. Isto mostra como Maria é um espírito sedento de sabedoria, e que procurando a sabedoria, encontraria a salvação e a luz. O ideal dos cristãos gnósticos na sua mais fundamental essência. Nestes textos, Maria queixa-se frequentemente de Pedro, dizendo a Jesus que Pedro detesta a «raça feminina», o que nos leva a questionar porque foram as mulheres silenciadas pelo movimento apostólico de Pedro. Nas crenças gnósticas, Maria Madalena não foi apenas uma mulher: ela foi a companheira de Jesus, a encarnação de uma essência espiritual, ( tal como Jesus), e ela foi a mulher que teve acesso directo, (através de Jesus), à sabedoria, (a gnose), e que, por isso, evoluiu de forma mais privilegiada para a iluminação.
Qual será o segredo de Maria Madalena? Aquele que a historia atirou para o esquecimento, mas que os manuscritos gnósticos agora descobertos vieram trazer novamente à luz do dia?!