Morrem, por ano, mais de 2,7 milhões de pessoas com o vírus da sida, de forma mais marcante na África subsariana. O último relatório da Organização Mundial de Saúde e a avaliação do programa de luta contra a sida das Nações Unidas indiciam que a epidemia está a estabilizar à escala global, mas apuram, também, que o impacto da crise económica dificulta a concretização dos programas de prevenção e de tratamento, em, pelo menos, 22 países de África, Caraíbas, Europa, Ásia e Pacífico. Com a África do Sul está na linha da frente dos portadores do vírus VIH no mundo, com 11,6% (5,7 milhões) da população (de 49 milhões). Em África a população flagelada é de 22,4 milhões. Viram-se agora os olhos das autoridades mundiais de saúde para o Leste Europeu e para a Ásia Central, em que se constatou um aumento do número de novas infecções.
Joseph Ratzinger tem vindo a apregoar que a acção humana tem de ser vista em conjunto com uma dimensão moral, que, embora, se baseie nos fundamentos que constituem o vértice do catolicismo apostólico romano, tem de se adaptar ao momento histórico. E, terá sido, com base nessa sua ideia que o Papa veio flexibilizar o uso do preservativo, apenas em "casos pontuais, justificados". No livro Luz do Mundo, a lançar em Portugal a 3 de Dezembro, Bento XVI dá como exemplo para um desses "casos pontuais justificados”, a utilização do preservativo por quem pratica a prostituição, com o argumento de esta pode moralizar aquela (?!). Acrescenta que o uso do preservativo não é "uma solução verdadeira e moral", nem "a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção do VIH", e defende que a solução "tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade". O que, no fundo, equivale a dizer que a utilização do preservativo só se justifica por questões de saúde e não de contracepção.
Em Portugal, como em todo o mundo, os ecos ouviram-se.
D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas, diz que está "muito feliz" com a decisão de Bento XVI, o que é coerente com a posição que ele próprio tomou aquando das declarações do Papa na visita a África, não se coibindo de afirmar que as palavras do Papa "chegam atrasadas" e de manifestar alguma hesitação e prudência dizendo que aguarda que Bento XVI assuma as mesmas perante os fiéis. "Se me pergunta se é um estrondo, sem cairmos em excessos, nem em exageros, é indiscutível que é. É indiscutível que é um "volte face", com o qual rejubilo", mas reconhecendo que a prática dos cristãos há muito assumiu essa opção em nome da responsabilidade e de princípios éticos e morais, tal como admite estar "muito satisfeito" com as palavras do Papa, tendo em conta que as mesmas se destinam a situações de risco reais, em que se "joga a vida" e em que estão em causa "princípios éticos". "A vida não pode ser infectada, a vida não pode ser assassinada", afirma, enfatizando que a "verdade pode aparecer um pouco alongada no tempo", mas que "quando é dita tem sempre lugar marcado". Mostrando, ainda, alguma relutância em crer que, ipsis verbis, terá sido isso que o Papa quis mesmo dizer, acrescenta que faz votos para que não venha a aparecer uma "contra corrente" a argumentar que Bento XVI disse sem dizer, ou seja, que terá sido mal interpretado, ou corrigindo a frase com uma retificação, atendendo a que há precedentes nestas reviravoltas.
O padre Carreira das Neves crê que a posição "pode levar a uma mudança de atitudes, já que a palavra do Papa é ouvida por muitos", e que é, sem dúvida, "um avanço", "um passo em frente" da Igreja. Já o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, preferiu remeter-se ao silêncio, no que foi acompanhado pelo porta-voz da CEP, Manuel Morujão, que se limitou a dizer que "não há voz mais autorizada que a do Papa". Maria João Sande Lemos, do movimento Nós Somos Igreja, afirma que "Depois de a Igreja até ter dito que o preservativo ajudava a propagar a infecção, estas palavras são muito positivas." D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa, diz que esta "é uma questão moral, que há muito tempo está esclarecida. Talvez as pessoas estranhem por ela vir do Santo Padre" e que é "a reflexão sobre um mal menor: não vamos matar outras pessoas quando alguém não tem consciência do que faz". Já no ano passado, o bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, tinha defendido, meio à revelia da doutrina predominante e oficial, "o uso do preservativo por doentes com sida", entendendo-a como uma medida "aconselhável e obrigatória".
Perante uma realidade dura e crua como a dos atingidos pelo vírus da sida, quer alguns cristãos, nas suas vidas privadas, e, dentro de portas, usavam o preservativo, até para fins de anticoncepção, e eram abençoados pelos padres das suas paróquias e compreendidos pelos seus confessores. Tal como já os técnicos afectos aos programas mundiais de luta contra a SIDA o recomendavam e tinham a aderência de alguns padres locais e regionais, o que não retira o valor das declarações de Joseph Ratzinger.
Mas creio que evidencia ao mundo esta triste realidade: que a Igreja, só quando se vê intimidada pela pressão dos media e só quando constata a calamidade como facto consumado, é que abre ligeiramente as janelas do seu pensamento. E, por isso, compreendo os que se movimentam já, exigindo um pedido de desculpas de Bento XVI ao mundo, pelos que morreram e pelos que estão enfermos.
Na Primeira Carta de São João, capítulo 4, versículos 8 e 10, lê-se que “…. Deus é amor” e que “Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos pecados.”, e esta é a maior lição da entidade divina cristã.
Então fica sempre a inquietação.
Porque será que aquela que se apelida de “mão de Deus”, de “voz de Deus”, não agiu prudentemente, de acordo com os deveres de cuidado a que estão obrigados os pais perante os filhos, e não acautelou, não preveniu, e apenas remediou. E, creio, que, a existir uma forma de Deus, lá do alto, o juízo que faria das posições de quem se diz seu mandatário seria bastante critico. E, aquela que me parece a grande conclusão, é a de que, nesta matéria, se confirma que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:26-27), porque, nós, por cá, também somos profundamente críticos em relação à imprudência e à negligência da Igreja. Deus é de amor, mas a Igreja é alicerçada em dogmas que nem sempre se coadunam com uma postura de amor. E isso dá que pensar! E deixa-nos profundamente apreensivos e, até mesmo, tristes!
Joseph Ratzinger tem vindo a apregoar que a acção humana tem de ser vista em conjunto com uma dimensão moral, que, embora, se baseie nos fundamentos que constituem o vértice do catolicismo apostólico romano, tem de se adaptar ao momento histórico. E, terá sido, com base nessa sua ideia que o Papa veio flexibilizar o uso do preservativo, apenas em "casos pontuais, justificados". No livro Luz do Mundo, a lançar em Portugal a 3 de Dezembro, Bento XVI dá como exemplo para um desses "casos pontuais justificados”, a utilização do preservativo por quem pratica a prostituição, com o argumento de esta pode moralizar aquela (?!). Acrescenta que o uso do preservativo não é "uma solução verdadeira e moral", nem "a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção do VIH", e defende que a solução "tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade". O que, no fundo, equivale a dizer que a utilização do preservativo só se justifica por questões de saúde e não de contracepção.
Em Portugal, como em todo o mundo, os ecos ouviram-se.
D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas, diz que está "muito feliz" com a decisão de Bento XVI, o que é coerente com a posição que ele próprio tomou aquando das declarações do Papa na visita a África, não se coibindo de afirmar que as palavras do Papa "chegam atrasadas" e de manifestar alguma hesitação e prudência dizendo que aguarda que Bento XVI assuma as mesmas perante os fiéis. "Se me pergunta se é um estrondo, sem cairmos em excessos, nem em exageros, é indiscutível que é. É indiscutível que é um "volte face", com o qual rejubilo", mas reconhecendo que a prática dos cristãos há muito assumiu essa opção em nome da responsabilidade e de princípios éticos e morais, tal como admite estar "muito satisfeito" com as palavras do Papa, tendo em conta que as mesmas se destinam a situações de risco reais, em que se "joga a vida" e em que estão em causa "princípios éticos". "A vida não pode ser infectada, a vida não pode ser assassinada", afirma, enfatizando que a "verdade pode aparecer um pouco alongada no tempo", mas que "quando é dita tem sempre lugar marcado". Mostrando, ainda, alguma relutância em crer que, ipsis verbis, terá sido isso que o Papa quis mesmo dizer, acrescenta que faz votos para que não venha a aparecer uma "contra corrente" a argumentar que Bento XVI disse sem dizer, ou seja, que terá sido mal interpretado, ou corrigindo a frase com uma retificação, atendendo a que há precedentes nestas reviravoltas.
O padre Carreira das Neves crê que a posição "pode levar a uma mudança de atitudes, já que a palavra do Papa é ouvida por muitos", e que é, sem dúvida, "um avanço", "um passo em frente" da Igreja. Já o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, preferiu remeter-se ao silêncio, no que foi acompanhado pelo porta-voz da CEP, Manuel Morujão, que se limitou a dizer que "não há voz mais autorizada que a do Papa". Maria João Sande Lemos, do movimento Nós Somos Igreja, afirma que "Depois de a Igreja até ter dito que o preservativo ajudava a propagar a infecção, estas palavras são muito positivas." D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa, diz que esta "é uma questão moral, que há muito tempo está esclarecida. Talvez as pessoas estranhem por ela vir do Santo Padre" e que é "a reflexão sobre um mal menor: não vamos matar outras pessoas quando alguém não tem consciência do que faz". Já no ano passado, o bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, tinha defendido, meio à revelia da doutrina predominante e oficial, "o uso do preservativo por doentes com sida", entendendo-a como uma medida "aconselhável e obrigatória".
Perante uma realidade dura e crua como a dos atingidos pelo vírus da sida, quer alguns cristãos, nas suas vidas privadas, e, dentro de portas, usavam o preservativo, até para fins de anticoncepção, e eram abençoados pelos padres das suas paróquias e compreendidos pelos seus confessores. Tal como já os técnicos afectos aos programas mundiais de luta contra a SIDA o recomendavam e tinham a aderência de alguns padres locais e regionais, o que não retira o valor das declarações de Joseph Ratzinger.
Mas creio que evidencia ao mundo esta triste realidade: que a Igreja, só quando se vê intimidada pela pressão dos media e só quando constata a calamidade como facto consumado, é que abre ligeiramente as janelas do seu pensamento. E, por isso, compreendo os que se movimentam já, exigindo um pedido de desculpas de Bento XVI ao mundo, pelos que morreram e pelos que estão enfermos.
Na Primeira Carta de São João, capítulo 4, versículos 8 e 10, lê-se que “…. Deus é amor” e que “Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos pecados.”, e esta é a maior lição da entidade divina cristã.
Então fica sempre a inquietação.
Porque será que aquela que se apelida de “mão de Deus”, de “voz de Deus”, não agiu prudentemente, de acordo com os deveres de cuidado a que estão obrigados os pais perante os filhos, e não acautelou, não preveniu, e apenas remediou. E, creio, que, a existir uma forma de Deus, lá do alto, o juízo que faria das posições de quem se diz seu mandatário seria bastante critico. E, aquela que me parece a grande conclusão, é a de que, nesta matéria, se confirma que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:26-27), porque, nós, por cá, também somos profundamente críticos em relação à imprudência e à negligência da Igreja. Deus é de amor, mas a Igreja é alicerçada em dogmas que nem sempre se coadunam com uma postura de amor. E isso dá que pensar! E deixa-nos profundamente apreensivos e, até mesmo, tristes!