Um artido do DNOpinião que dá que pensar e que merece um registo especial."Na Alemanha, uma associação cívica avançou com uma providência cautelar junto do Tribunal Federal, em Karlsruhe - o correspondente ao nosso Tribunal Constitucional -, com o fim de impedir a República Federal da Alemanha de participar no financiamento de emergência à República Portuguesa. Na Finlândia, país que vai às urnas no próximo domingo, a primeira-ministra e o ministro das Finanças afirmam que, desta vez, a troika negocial tem de ser muito mais dura, não se podendo ficar pelo PEC 2011/2014, acordado a 11 de Março passado, enquanto os ultraconservadores, seus rivais, querem mesmo vetar a ajuda a Portugal. No Reino Unido, a imprensa popular reclama que o País não gaste uma só libra a ajudar países da Zona Euro à beira da falência. Tudo isto são indícios da fractura que cresce nas diversas opiniões públicas nacionais entre aqueles que continuam a achar que faz todo o sentido apostar na construção europeia e aqueles - fustigados pelas consequências adversas da Grande Recessão 2008/2009 - UE culpam os parceiros incumpridores pelos seus males e preferem seguir o seu caminho sem eles.
A coesão interna da União Europeia, bem como os seus mecanismos de cooperação económica e de estabilização financeira, em fase de construção, não se encontram ainda ameaçados. Mas as réplicas deste verdadeiro terramoto económico global têm minado a confiança de parte da população europeia e reforçado o campo dos xenófobos e nacionalistas, cujo fim é o de desmantelar o que foi construído com tanto esforço ao longo de mais de meio século.
Por mais que se argumente que Portugal participa financeiramente na ajuda acordada à Grécia e à Irlanda, por mais que se relembre que os países contribuintes líquidos da UE devem boa parte da sua prosperidade ao alargamento do mercado interno à dimensão de um continente, com 500 milhões de cidadãos consumidores a acalmia só voltará a muitos espíritos quando esta crise, com contornos continentais, estiver debelada. O contributo de Portugal para tanto só poderá vir de uma negociação séria, comprometida e corajosa, que assuma compromissos à altura de poderem ser cumpridos. E, por parte da troika, o que se pede é que abandonem estereótipos e encontrem um caminho de ajustamento financeiro e de reestruturação económica exigente, consentâneo com aquilo que somos e que queremos ser."