sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

NOVAS MANEIRAS DE FAZER POLÍTICA OU A VONTADE DE NÃO A FAZER SEQUER

Desde que comecei a tentar perceber o que era "fazer militância política", e foi-o muito recentemente, tenho experimentado os antípodas dos sentimentos. Quase que me apetece recorrer ao conceito de Civic Hacking que, em síntese, estimula acções de participação política da comunidade web, de modo a dar expressão da população via rede. Em outras palavras, "faz uso estratégico da rede para fortalecer o poder político da sociedade.". Civic Hacking é mais que um termo, é uma alternativa, uma táctica que se insere na e-democracia. Esta dita táctica podia controlar o chorrilho de asneiras com que somos literalmente torturados dia a dia. Ou melhor, só veria tal espectáculo quem a isso se predispusesse!
Quando Pedro Passos Coelho apareceu – tal qual se aguardava por El-Rei Dom Sebastião – entre o cinzentismo politiqueiro e o anúncio da crise, fui das primeiras pessoas – e ainda Manuela Ferreira Leite afirmava que PPC nunca seria lider do PSD – a admitir que poderíamos estar perante um rival à altura de José Sócrates. E como acredito que a Democracia e os governos se fortalecem com oposições competentes, senti uma ténue esperança.

Valha-nos Nossa Senhora! Não podia estar mais enganada! O homem passou de besta a bestial umas quantas vezes na sua vida! Mas parece que desta se fixou numa das referências! Ora bem..., o homem foi pisado e repisado pelo seu próprio partido. Até os que deram a ordem para a sua morte política lavaram as mãos como Pôncio Pilatos, e consagraram-lhe a Santa Bajulação. O homem é o produto de um dos maiores mentores da política nacional (Ângelo Correia) e sai-se um desperdício de aluno que não chega aos pés de qualquer barão do PSD, nem sequer ao "seu" . O homem, entretanto, até tirou uma licenciatura, como um bónus de inteligência. Raios o partam, tanta gente jurou a pés juntos que voltara El-Rei Dom Sebastião. E até eu lhe reconheci vocação e treino para a coisa quando ainda todos os meus amigos, incluindo toda a família - que é PSD. Em suma, achava-se que o homem anunciava-se como o prenúncio de uma renovada forma de fazer política. Com todas as condições para vir a ser o Alberto João do Continente. (Enfim, no tanto se isso pode levar a concluir ....!)
Contudo ....

Constato que, até agora, que já não somente líder da oposição, mas sim um suposto candidato a Primeiro-Ministro, continua a não se opôr a coisa de nenhuma, a nada de nada. A cada medida que o Governo apresentou, em tempo de pré-crise, teve sempre cinco caminhos: recusava, porque achava inadmissível; negociava, para obrigar o Governo a discuti-la e forçá-lo a revê-la de acordo com as suas exigências; armava confusão (os laranjas apelam à confusão, valendo-se de um nevoeiro informativo que vai servindo de filtro ao pretendido); aceitava (o PSD anuncia que, por força do interesse nacional, se vê forçado a concordar) com a medida do Governo; envergonhava-se (o PSD penitenciava-se e pede perdão ao País).
Assim, se o eleitorado se prepara (com a velocidade das sondagens talvez esteja a preparar-se com demasiada independência) parece estar em vias de punir o PS, porque “governou”, seja por causa das Scut e dos chips nas matrículas até à questão FMI, e a levantar ao púlpito, atendendo aos malabarismos políticos que o movem, já o PSD nos foi presenteando com o apoio esporádico e previsível ao Governo em muitas matérias, revelando que há fogo que não passa de fumo! O povo nomeou Sócrates como bode expiatório por todas as calamidades públicas (ora porque chove no Verão ora porque faz sol no Inverno). Passos Coelho, o anjo que legitima, apoia e compreende todos os desastres políticos supostamente provocados pelo Governo, assumia-se, finalmente, como um herói popular.
Tenho andado a pensar na explicação para tais fenómenos, desta mania do povo para castigar quem faz alguma coisa e de premiar quem nada faz, e, lamentavelmente, mas nem a minha educação dominicana-jesuíta consegue que se faça luz para esta propensão para o sofrimento, a dor e a penitência e a repetição de erros.
Nem chego a perceber se Passos Coelho toca mais ao coração ou à carteira dos cidadãos, nem sei se seduz os ricos ou os pobres, mas estou convencida que, seja pelo que for, designadamente pela tal propensão para a lástima (tipo fado, tipo saudade), se o homem vence esta coisa, ainda desata a agradecer ao País, mas, logo de seguida, a pedir desculpas a Sócrates (que não queria dar-lhe dores de cabeça e desgostos afectivo-políticos - ou tirar-lhe, dirão alguns), a armar uma grande birra, bater com as mãos na cabeça (porque não merecia, que é uma honra em demasia) dar um chilique, e, enfim, e por fim, oferecer de bandeja, de novo, a governação a Sócrates. Sugiro que, a exemplo, de um seu colega de partido já dinossauro na política, caso os portugueses endoideçam de vez e o empurrem para a cadeira de primeiro-ministro, peça desculpa ao povo, incluindo a Sócrates, e nos recompense a todos uma torradeirazinha ou um frigorificozinho. Que assim temos assegurado, no seu mandato, pãozinho quente e um leitinho fresco.
Mas o que o pobre coitado não quer mesmo é que fique conhecido como o mentor de uma nova forma de fazer política: evitar o poder a qualquer custo. Pelo que cabe perguntar: a nova forma de fazer política ainda será política ou já entra na pura fraude?
Inspiração no artigo de Alberto Gonçalves do DN Opinião, adicionados com uns cheirinho de sua graça aqui da pequena.