terça-feira, 31 de maio de 2011

REFLEXÕES SOBRE O CINISMO DA POLÍTICA NACIONAL

Há muito que não deixo aqui algumas palavras. A importância do tempo em que vivemos parece justificar que retome o hábito. A propósito do tom excepcionalmente radicalizado da política que lembra o PREC em que valia a máxima vita mea, mort tua.
Portugal precisa de um compromisso político. Um compromisso de governação. Independentemente de se defender se governe com um partido, com dois ou com três. A verdade é que a dívida que nos consome é culpa de todos os que até agora nos governaram, o torna inútil a discussão do grau de culpabilidade de cada um.
Nunca como agora estão criadas as condições sociopolíticas da política cínica que legitima a manipulação de ilusões com a consequente real perversão na acção dos actores políticos. Uma opacidade e patologia política que contém uma – outra, não menor – perversão: escavacam-se os mecanismos reguladores da democracia, ou seja a avaliação objectiva dos governantes - e dos players da oposição. Está criado o impasse na mente dos eleitores e exponenciadas as condições do exercício da política cínica em Portugal, que promove, iníqua e perversamente, as condições em que as ilusões e a mentira política são penetradas no espaço social.
E o cúmulo desse cinismo político está bem patente pelo actor que se propõe comprar a nossa dívida soberana: a República Popular da China, uma "democracia sem democracia". As condições da política cínica vigente afasta-nos paulatinamente dos genuínos ideais democráticos e livres que estiveram na base e na essência da fundação das sociedades abertas. Isto porque, como todos reconhecemos, a China está longe de prosseguir os ideais humanistas que supostamente abraçámos com a nossa adesão à Europa. E afinal, para que nos serve a Europa?! Quando se pensa na política de cinismo instalada fica-se quedo de espanto! Eis-nos nas mãos de gente que se acha nos antípodas dos valores europeus que tínhamos como base dos negócios de parceiros para toda a vida. Oiço uma certa figura à frente dessa grande instituição em que devíamos confiar de olhos fechados a proferir um chorrilho de advertências bacocas de fora para dentro como se fosse o nosso Salvador – assim o quisesse, assim o pudesse – e a exigir sacrifícios, compromissos e espírito de missão nacional. Mas afinal, quem foi que abandonou o lugar de Primeiro Ministro ante a crise e se meteu no encalço de um caminho de deserção pelo poder. Quem foi de um cinismo degenerado e que é, talvez, o expoente desse paradigma negativo do político cínico contemporâneo? Um português na Europa de costas voltadas para o País.

domingo, 29 de maio de 2011

"A Infanta Rebelde" de Raquel Ochoa


O próximo livro a ler. Uma história de vida a confirmar uma elevada estatura moral. Neta de D. Miguel I e última filha de D. Miguel II, Maria Adelaide de Bragança, Infanta de Portugal, nasceu em Janeiro de 1912. Desde muito cedo, foi testemunha de um mundo em transformação. Assistiu à queda de impérios, viveu por dentro duas guerras mundiais e participou activamente na resistência contra os nazis. Por duas vezes esteve presa e em ambas foi condenada à morte. A intervenção directa de Salazar numa delas e um desenlace surpreendente noutra permitiram que continuasse a sua luta. Ao chegar a Portugal, já casada, com o seu estilo sincero, directo e inconformado, continuou a defender as ideias em que acreditava, no auxílio aos mais desfavorecidos, desagradando a uma sociedade que considerava a sua actuação pouco adequada a uma pessoa da sua condição. A Infanta Rebelde mostra-nos a vida de uma figura absolutamente ímpar na História Contemporânea de Portugal, mas, acima de tudo, o retrato de uma mulher que teve a coragem de ultrapassar todos os obstáculos e lutar pelo ideal que dava sentido à sua vida ¿ tornar a sociedade, tal como a sua natureza, mais justa e benévola.