terça-feira, 8 de maio de 2012

ὁλόκαυστον - Todesfuge, de Paul Celan


Opondo-se a Theodor W. Ardono que dizia que "Escrever poemas depois de Auschwitz é barbárico", Paul Celan mostrou que, depois de Auschwitz, a lírica ainda era possível. “Conta aquilo que era amargo e te magoa.”, disse). Sobrevivente do Holocausto, escreveu um dos poemas mais significativos e pungentes sobre o horror da barbárie nazista. A 8 de Maio, terminou o " ὁλόκαυστον".
FUGA SOBRE A MORTE (Todesfuge) " Leite-breu d' aurora nós o bebemos à tarde nós o bebemos ao meio-dia e de manhã nós o bebemos à noite bebemos e bebemos cavamos uma cova grande nos ares Na casa mora um homem que brinca com as serpentes e [escreve ele escreve para a Alemanha quando escurece teus cabelos de [ouro Margarete ele escreve e aparece em frente à casa e brilham as estrelas ele
[assobia e chama seus mastins ele assobia e chegam seus judeus manda cavar uma cova na terra ordena-nos agora toquem para dançarmos Leite-breu d'aurora nós te bebemos à noite nós te bebemos de manhã e ao meio-dia nós te bebemos à tarde bebemos e bebemos Na casa mora um homem que brinca com as serpentes e [escreve que escreve para a Alemanha quando escurece teus cabelos de [ouro Margarete Teus cabelos de cinza Sulamita cavamos uma cova grande [nos ares onde não se deita ruim Ele grita cavem mais até o fundo da terra vocês ai vocês ali [cantem e toquem ele pega o ferro na cintura balança-o seus olhos são [azuis cavem mais fundo as pás vocês aí vocês ali continuem tocando [para dançarmos Leite-breu d' aurora nós te bebemos à noite nós te bebemos ao meio-dia e de manhã nós te bebemos à tardinha bebemos e bebemos Na casa mora um homem teus cabelos de ouro Margarete teus cabelos de cinza Sulamita ele brinca com as serpentes Ele grita toquem mais doce a morte a morte é uma mestra [d' Alemanha Ele grita toquem mais escuro os violinos depois subam aos [ares como fumaça e terão uma cova grande nas nuvens onde não se deita ruim Leite-breu d'aurora nós te bebemos à noite nós te bebemos ao meio-dia a morte é uma mestra d' Alemanha nós te bebemos à tarde e de manhã bebemos e bebemos a morte é uma mestra d' Alemanha seu olho é azul ela te atinge com bala de chumbo te atinge em cheio na casa mora um homem teus cabelos de ouro Margarete ele atiça seus mastins contra nós dá-nos uma cova no ar ele brinca com as serpentes e sonha a morte é uma mestra [d' Alemanha teus cabelos de ouro Margarete teus cabelos de cinza Sulamita"